A Gabriela de todos nós



Na 16ª Tertúlia Literária do nosso grupo "Lousã Book Lovers" estivemos a falar sobre Jorge Amado, o Brasil e "Gabriela, Cravo e Canela". Foi curioso termos como tema o nosso país irmão, logo agora que o mesmo atravessa um período de mudança tão sério, que somos inundados com notícias assustadoras de radicalismos e medo. Todos conhecemos a fórmula da extrema direita, de como o que seria impensável se torna viável para o comum dos cidadãos, de como alguém que se considera "da paz" pode apostar num candidato que defende o armamento civil, a exterminação de certas pessoas, clama o ódio como solução para um país cheio de problemas. Sabemos que há muita gente descontente, que quer mudanças, que precisa de se sentir seguro, e para nós europeus que vivemos em relativa calma e prosperidade, é difícil aceitar que se defenda o nazismo. Falamos de cor, porque estamos longe, só conhecemos o Brasil das notícias, não temos que enfrentar a sua pobreza e a sua dor. Para muitos Bolsonaro vai limpar o que está mal, e a confiança económica vai crescer, o Brasil vai se tornar finalmente no paraíso que todos merecem. Mas lemos Jorge Amado, suspiramos com a sua visão romântica da vida, rimos com todos aqueles personagens que num outro local qualquer do mundo seriam uns trastes, mas que ali em Ilhéus fazem dos seus defeitos bandeiras de humor, sorriem na adversidade com a alegria de um povo que tem fibra, que luta pelo direito de ganhar o pão, mas sem nunca se deixar vencer pela ganância da vida, e principalmente, sem nunca esquecer a beleza do cochilo na rede de pano, sem nunca perder a vontade de uma partida de gamão no bar. A dada altura até sentimos inveja daquela leveza de simplesmente ser, como Gabriela, feliz de chinelos, de flor no cabelo, de amar o moço bonito, sem "precisão de casamento", que "tonteira", para ser feliz. Uma lição de minimalismo, que no fundo nos faz pensar, será hoje o Brasil rico mais feliz que aquela gente de Ilhéus? Será o futuro mais esperançoso com as promessas de mudança de Bolsonaro? Seremos todos mais felizes rodeados de conforto e poder de compra? Não será a vida uma perca de tempo se não conseguirmos atingir a felicidade serena de aceitar as nossas realidades e com alegria tornamos as adversidades mais fáceis de aguentar? A procura do Amor no mundo de Jorge Amado é a mesma de todos nós, todos queremos uma "Gabriela", e duvido que a consigamos encontrar na filosofia de extrema direita.


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