Ter ou não ter cão, eis a questão!


Desde que me lembro de ser gente já tive cinco cães, dois rafeiros, três de raça. Não sou propriamente doente por animais, mas os cães são um bicho que, quando bem treinados e educados, acrescentam uma certa dinâmica às famílias e são uma companhia agradável, têm personalidades distintas que é muito engraçado descobrir. São quase uma extensão do dono, adquirem os nossos hábitos, aprendem a viver no ritmo da casa, enfim, quem tem cães sabe do que estou a falar. Mas nisto tudo há um (ou vários) senão, que é o cansativo facto de que enquanto são cachorros espalham porcaria por todo o lado, roem tudo, gritam quando estão sozinhos, etc. Não há como não praguejar quando vamos descalços pelo corredor e pisamos xixi de cão, ou algo pior e mais pastoso e quentinho... É preciso muita paciência para não perder o bom senso durante o primeiro ano. E eu já me tinha esquecido disto, por isso, este verão, arranjei um cão. É muito giro, branquinho, um bichon maltês, de raça, muito brincalhão e afetuoso, e porco, e roedor, como qualquer cachorro. Como tenho possibilidade para isso, assim que terminaram as nossas férias, comecei a trazer o "bichon" comigo para o trabalho, está todo o dia perto de mim, e mesmo à noite deixo-o dormir no meu quarto, numa almofada no chão. A maior parte do tempo ele porta-se bem, para cachorro, mas ainda tem demasiada energia e tem um grande, enorme defeito, ladra e chora nuns decibéis inimagináveis. E foi esse defeito que ontem me fez desejar não ter cão nenhum, quando depois do trabalho tive de ir visitar um familiar que está internado nos HUC. Andei à volta do hospital à procura de um lugar à sombra, porque tinha o cão comigo, como habitualmente, e encontrei, deixei os vidros todos abertos e fui à visita. O "bichon" gritava que nem um cão danado, já eu ia muito afastada do carro e ainda o podia ouvir. Ele grita de tal forma, que quando vou ao supermercado costumo gozar e dizer às minhas filhas para se despacharem, porque algum dia chego ao carro e tenho uma maluca a partir-me o carro para salvar o cachorrinho... Ontem foi o dia!, já estava a voltar para o carro, depois de 40 minutos, e telefona-me o meu marido de Nápoles, sim em Itália!, a dizer que lhe tinha ligado a PSP de Coimbra por causa do cão dentro do carro... Lá fomos a correr, e chegamos ao veículo estão três polícias, um segurança do hospital e uma doida varrida prestes a bater-me. Perguntei aos polícias o que se passava, ignorando a tarada, e foi-me explicado que tinham sido chamados porque um cão estava em sofrimento dentro do carro... eu expliquei-me e disse que tinha deixado o carro à sombra, como ainda se encontrava, de vidros semi-abertos, e estou eu a conversar com os agentes a doida põe-se de dedo em riste a berrar "MENTIRA!!! Eu cheguei aqui e o carro estava ao sol!!"
O polícia viu a minha cara e pediu-me para irmos conversar para outro lado, para longe dela... Bem, pelos vistos o que eu fiz é crime, e estas senhoras têm a lei do lado delas. Cometi um atentado ao bem estar animal, e o meu cão era a prova disso, de tal forma que gritava dentro do carro e esgadava-me os bancos todos, histérico com a algazarra cá fora. Ficaram com os meus dados, demos água ao cãozinho, ou melhor, ela deu água ao meu cão nas suas próprias mãos, em conchinha, e a dizer "Pronto fofinho... já passou, já passou...". Se já estão irritados com a gaja só com esta descrição, imaginem como me sentia... Desejei ardentemente que os polícias se fossem embora e ela ainda lá ficasse a afagar a mariquice do meu cão para eu lhe mostrar o que eram maus tratos a animais... mas a cobardolas pirou-se assim que os polícias se começaram a despedir de mim à vez. Pobres polícias, que têm de aturar estas taradas, pobre de quem hoje em dia ainda tem animais de companhia e ainda tenta conservar alguma sanidade mental. Pobre do meu familiar que está internado em estado grave e foi a menor das minhas preocupações, injustamente.
Mas isto ensinou-me várias coisas, e uma delas, foi a lei. Da próxima vez vou exigir a perícia de um veterinário, que comprove que o cão estava a sofrer algo mais que histerismo.

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