Rebobinar até ao sítio certo uma cassete, uma arte perdida!


Devia ter os meus 7, 8 anos, não consigo precisar bem, sei que era bem pequena e que já dominava um VHS. Um dia decidi ver um filme que estava numa sala pequena em casa dos meus avós paternos, onde havia várias cassetes, um leitor de VHS e uma televisão. Encontrava-me sozinha, como sempre gostei de estar, sossegada, enquanto os adultos faziam as coisa lá deles, conversavam coisas chatas e que não me interessavam minimamente. O título era "Música no Coração", e se tinha música, só podia ser bom. Rebobinei e comecei a ver, sem qualquer noção do que para ali estava. Uma música bonita surgiu e levou eternidades numa apresentação sem fim, com barulhos de pássaros a cantar, paisagens, casas, tudo bonito. Recordo-me de estar já a ficar sem paciência porque o filme demorava em começar, mas quando já estava prestes a desistir e mudar a cassete, a música desenvolve e diz que vai acabar, aproximando-se de um êxtase musical que todos reconhecem, até mesmo crianças. Entra a protagonista a cantar, e se mete cantorias já me conquistou. Coloquei-me confortavelmente a assistir e há coisas que nunca esquecemos, memórias gravadas com o coração, que nos acompanham para sempre. Quis ser freira durante uns tempos, só para viver naquele sossego alegre, onde se cantava "Aleluia" a várias a vozes; viajar até à Áustria, para ver aquelas montanhas onde se podia correr numa relva sem fim; ter um teatro de marionetas como o dos Von Trapp, mas o que mais me conquistou em todo o filme foi este local da foto, um lago nas traseiras da casa. Não sei bem porquê, mas a ideia de se poder abrir um portão, saltar para dentro de um barco era tão idílica... Nem gosto especialmente de nadar, muito menos numa água escura e certamente repleta de bichos, paus e limos. Mas como qualquer sonhador, a ideia é que me seduzia, não a concretização da mesma. E passados 30 anos, ainda adoro a imagem. Podia viver ali, sossegada, a beber limonada cor de rosa e a ler livros. Hoje era um daqueles dias em que queria ali estar. Porque voltamos às imagens de segurança da nossa infância em certas alturas? Ah, mente bem treinada... queixo-me tantas vezes de ti e afinal sabes o que fazes! 

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