Smelly cat



Ontem fumava o meu cigarro da noite, depois da casa acalmar e a rua estar vazia e silenciosa quando vi mais do que queria. Sentei-me na cadeira da varanda, a aproveitar a calma e sossego, quando fui testemunha de um crime. Sem querer, fui a única pessoa a ver um rapto felino. Não conseguiria dar uma descrição útil para as autoridades, vejo mal ao longe, mas consigo dizer sem grande dificuldade que o criminoso era uma mulher, nova, que andava de fato de treino e cabelo preso a vaguear na rua sem qualquer justificação. Não andava a correr, nem a caminhar, apenas apareceu do nada, chegou-se sorrateiramente perto do gato que comia qualquer coisa do chão e agarrou-o. O bichano não era dela, é um animal com bom aspeto que por vezes aparece nas escadas do meu prédio, sem coleira, mas domesticado, sem medo de humanos. Normalmente sai para a rua e vai à sua vida, sem dar satisfações a ninguém, independente e claramente bem alimentado por alguém. Ontem acabou-se-lhe a boa vida, coitado, foi apanhado no seu crime de liberdade selvagem e nunca mais vai ser o mesmo... Ou lhe tiram as miudezas à facada, ou fecham dentro de casa, à espera que algum humano lhe queira mudar a areia para o resto da vida. E se ninguém o quiser?, pensei eu, incrédula com a arrogância com que alguém decide tramar a vida a um gato de rua... Não sei se o que fazemos é assim tão correto, se somos mesmo amigos dos animais, a mim pareceu-me que o desgraçado não teve grande voto na matéria, mas pronto... Espero que o bichano, se não estiver a gostar da nova vida condicionada que lhe ofereceram ontem, arranhe os sofás todos à raptora.

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